Na linha da tradição de muitos anos, selecionamos os dez melhores da temporada recém-finda, todos comentados no espaço domingueiro do “Zoeira”, caderno do jornal Diário do Nordeste. Nosso melhor filme seria “A Vida dos Outros” (Das Leben der Anderen), de Florian von Donnersmarck, um dos mestres do moderno cinema alemão, não fosse o fato de ter sido lançado no Brasil em 2007 e em Fortaleza em fevereiro de 2008. A seleção segue uma ordem classificatória apenas relativa, dada a extrema dificuldade de distinguir entre ótimos e bons filmes, alguns deles de gênero e temáticas diferentes. Ei-los:
01. “O SONHO DE CASSANDRA” (Cassandra’s Dream), de Woody Allen. Outro marco decisivo da maturidade técnico-artística do cineasta nova-iorquino, no qual funde substância e momentos sobresselentes de cinema num crescendo de suspense capaz de fazer inveja ao velho Hitchcock. Interpretação de primeira a cargo de Ewan McGregor, Colin Farrell e Tom Wilkinson, com destaque para a sedutora Hailey Atwell, atriz inglesa em plena ascensão. Fotografia ímpar do mestre sueco Vilgot Sjoman.
02. “VICKY CRISTINA BARCELONA”, de Woody Allen. Com estes três nomes o diretor enriquece sua bagagem filmográfica e realiza um dos melhores do ano. Basta lembrar como soube captar a importância do instante e do detalhe e fazer os diálogos interagirem com as imagens em perfeita sincronia. Conduzidos pelo cineasta, Bardem, Penelope, Rebecca e Scarlet conferem maior credibilidade aos seus papeis e valorizam essa comédia dramática. Fotografia ímpar de Javier Aquirresarobe e trilha musical executada por guitarras.
03. “EFEITO DOMINÓ” (The Bank Job), de Roger Donaldson. Baseado em caso real ocorrido em Londres (audacioso assalto ao deposito subterrâneo dos clientes de um banco), o filme se ombreia às melhores realizações já levadas à tela sobre o tema mormente pelo poder de síntese do diretor australiano ao entrecortar os ritmos interno e externo e valorizar as qualidades da imagem cinematográfica. Louvem-se a presença feminina de Saffron Burrows e a atuação de Jason Statham e David Suchet.
04. “ANTES QUE O DIABO SAIBA QUE VOCÊ ESTÁ MORTO” (Before the Devil Finds that You’re Dead), de Sidney Lumet. O jogo de acasos é ilustrado de forma magistral neste filme de clima “noir”, no qual o veterano cineasta (84 anos!) trabalha com maior competência a ordem interrompida e um mundo de sombras, violento, trágico, onde o mal predomina na linha do pensamento de filósofos segundo o qual o homem é o lobo do homem. Philip Seymour Hoffman e Ethan Hawke são os dois filhos em posição conflitante com Albert Finney, o pai, enquanto Marisa Tomei fica entre dois fogos, todos muito bem em seus papéis.
05. “A ESPIÔ (Zwarboek/The Spy), de Paul Verhoeven. Apesar da longa duração e de alguns pequenos reparos a situações um tanto improváveis do roteiro, os méritos do realizador holandês sobressaem não apenas pela recriação do clima de violência e traição, mas também pela precisão da decupagem e dos planos-seqüência com os quais encerra o filme. Atuações de primeira de Carice van Hoouten e de Sebastian Koch. A fotografia de Karl Lindelamb é invulgar, mormente nas cenas noturnas, quando as imagens parecem pintadas com pincéis de luz, como bem lembrou um crítico francês.
06. “A ÚLTIMA AMANTE” (La Vielle Maitresse), de Catherine Breillat. O filme se impõe pela proficiência da cineasta francesa, vista por muitos críticos como mestra do erotismo, bem assim pela forma como enfoca, em termos de bom cinema, a paixão avassaladora de uma mulher em busca de libertar-se das amarras de uma sociedade hipócrita e repressora, como a de Paris no século XIX. Atuam bem Asia Argento, o jovem estreante Fu’Ad Ait Aattou, a bela Roxane Mesquida e coadjuvantes da categoria de Michel Lonsdale. De alto nível as “prises de vues” de Paul Muret.
07. “UM PLANO BRILHANTE” (Flawless), de Michael Radford, emerge como “thriller” de alta hierarquia do diretor inglês, ao captar com acerto a vida interior dos personagens-chave, tornada perceptível pelas imagens-rosto enriquecidas pela dose certa de suspense e dúvidas, enquanto as imagens-significantes contribuem com as imagens-tempo para enriquecer o ritmo no terço final. Richard Gretrex cuida bem da fotografia em cores dessaturadas, Paul Desmond executa seu jazz harmonioso e o elenco traz Demi Moore e Michael Caine em boa forma, ao lado de coadjuvantes como Joss Ackland e Lambert Wilson.
08. “O GÂNGSTER” (American Gangster), de Ridley Scott. O cineasta inglês dispensa apresentações, pois está entre os melhores do século XX. Apesar da temática da violência, tortura e crimes, o veterano mestre logra alta qualificação no específico fílmico, na fotografia de Harry Savides, na música de Marc Streitenfeld, no desempenho da dupla Denzel Washington e Russell Crowe e nas presenças da sensual porto-riquenha Carla Gugino e do gângster italiano vivido por Armand Assante.
09. “CHEGA DE SAUDADE”, de Laís Bodansky, cineasta talentosa, sensível às impressões visuais e à relevância das imagens-movimento, capaz de surpreender-nos neste seu segundo longa (o primeiro foi o elogiado “Bicho de Sete Cabeças”), máxime por trabalhar em cenário único e com personagens capazes de enriquecê-lo. Destaques para a insinuante Maria Flor (recorde-se dela em “É Proibido Proibir”, de Jorge Durán), o tarimbado Leonardo Villar e Cássia Kiss. Fotografia do veterano Wálter Carvalho.
10. “BANQUETE DE AMOR” (Feast of Love), de Robert Benton. Comédia dramática na qual o elogiado diretor americano consegue reunir com lucidez, aprumo e competência técnica o sexo, o humor, o romance, a ironia de situações, a imprevisibilidade dos eventos, o jogo de acasos, a fragilidade de sentimentos, a tristeza e a fugacidade do tempo, com suas perdas e danos. Impecáveis as cores de Kramer Morgenthau, a condução do elenco e a música incidental de Stephen Trask.
sábado, 17 de janeiro de 2009
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Gostei mto da lista, Mestre !
ResponderExcluirE PARABÉNS pela inclusão de um filme brasileiro, que tb. achei espetacular !
Que BOM saber que agora contamos com Blog tão caprichado.
Grande abç da Verônica Henriques
Muito bom seu post, esses filmes parecem ser realmente bons, e fogem do cliché,pena que a maioria dos cinéfilos está apenas interessada em blockbuster do que em filmes de verdade.
ResponderExcluirNossa acabei de ler uma matéria no Zoeira sobre seu blog, que até então não conhecia, e vim correndo conferir.
ResponderExcluirAdorei, simplesmente espetacular...
Abraço...
OBRIGADO,PROF. L.G. MIRANDA,PELA EXTRAORDINÁRIA PARTICIPAÇÃO DE HOJE NO PROGRAMA DA HORA,VEICULADO PELA TV UNIÃO.E PARABÉNS PARA ESSA EMISSORA,QUE SEMPRE DEMONSTRA AGUDEZA NAS ESCOLHAS DE SEUS ENTREVISTADOS.O QUE SE AFIRMA COM O CONVITE DE TÃO RENOMADO CONHECEDOR DE CINEMA,UM PRÓCER CEARENSE AMANTE DA SÉTIMA ARTE.E POR FIM,OUVI-LO,HJ,FEZ COM QUE,EU,INCIPIENTE CONHECEDORDE CINEMA E WELLES,SENTISSE O INTERESSE DE CONHECER MAIS SOBRE .
ResponderExcluirP.S.: PARABÉNS PELO ACERVO,E SÓ LAMENTO PELO POUCO TEMPO DO PROGRAMA,QUE MESMO COM OS PROBLEMAS TÉCNICOS NÃO DEIXOU DE SER FENOMENAL!
KRC.
Meu nome é alexia, sou aluna do colégio christus. Em junho, ocorrerá uma feira de literatura em meu colégio, e iremos divulgar revistas sobre cinema,em cada revista será abordado um gênero do cinema e um deles será o suspense. Gostaria de saber se o senhor poderia conceder-nos uma entrevista e se poderíamos dilvugar essa entrevista em nossa revista revista.
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